Há alguns dias em uma livraria, ouvi um casal de jovens conversando diante dessa edição definitiva do quadrinho O Corvo. Discutiam o que poderia ser aquilo. Na mesma hora engoli seco e pensei: “como alguém pode não conhecer O Corvo?”.
No fim das contas, o garoto realmente não fazia ideia do que se tratava a obra. A garota ao menos sabia que existia um filme, e só! E ela nunca havia assistido. Depois disso, foram embora ainda sem conhecer o que era O Corvo e quem era James O’Barr.
Uma pena.
Se você se encontra nessa mesma situação do casal citado, saiba que não terá mais desculpas para não conhecer essa obra.
A verdade é que devemos uma salva de palmas para a editora Darkside, que vem fazendo um ótimo trabalho em suas publicações de excelente qualidade, tanto na escolha de títulos lançados como no rebuscado acabamento gráfico.
Com a Edição Definitiva do quadrinho O Corvo, temos em mãos um trabalho impecável, e que carrega um valor sentimental muito grande em cada página virada.
Quem me conhece sabe que amo dramas e histórias que atingem seu coração e alma com doses cavalares de sentimentalismo e acabam te deixando tristes por um momento. É muito bom quando você está lendo e faz uma pausa para refletir sobre o trecho que, quer queira ou não, falou diretamente com você.
Talvez você já saiba disso, mas O Corvo é uma história inspirada em fatos reais, uma tragédia que aconteceu na vida do próprio autor, James O’Barr, cuja noiva morreu assassinada por um motorista embriagado. Quando você mergulha na leitura, já sabendo disso, é possível ver e sentir cada momento difícil e depressivo que o autor teve que passar, e uma das maneiras que ele encontrou para desabafar isso foi colocando os sentimentos para fora em forma de traços, expressões, diálogos, reflexões e principalmente extravasando na violência pontual.
Na história, acompanhamos a jornada de Eric Draven, um jovem sonhador e romântico que teve sua vida arrasada por marginais drogados de uma gangue que violentou e assassinou sua noiva, enquanto ele transitava entre a vida e morte após ser baleado na cabeça.
Eric volta dos mortos e inicia uma caçada em busca dos assassinos. Trata-se de uma história sobre o amor, sonhos, vingança e depressão. É um reflexo do que James O’Barr estava passando na época, uma tradução adaptada dos seus sentimentos.
É importante dizer que a Edição Definitiva tem conteúdo inédito, ou seja, que não foi publicado no original. James, diz que teve que fazer vários cortes a pedido da editora, contudo, essa edição da Darkside nos traz tudo o que podemos ter sobre a obra máxima de O’Barr.
Logo no início, você poderá ler algumas cartas do autor, que valem a pena ser conferidas, assim como a introdução de John Bergin, datada de 1993.
Como roteirista, posso dizer que o rumo da história é simples (vingança), contudo, a construção do protagonista (Eric) e seu relacionamento com a noiva (Shelly Webster) são exemplares e profundos, carregados com a simplicidade da vida real. Esses momentos são naturais e possíveis, o que deixa a história bem mais crível e próxima da nossa realidade. Já os marginais são os típicos membros de gangues dos anos 80, um tanto superficiais, retratando a narrativa da época, que promovem a violência ao bem querer, chapados com o que estiver pela frente. Não há nenhum tipo de simpatia ou empatia que seja construída entre esses personagens e o leitor. Eles estão ali para serem caçados e punidos por Eric.
Enquanto lia, foquei muito mais nos sentimentos do protagonista e em como ele lutava para lidar com suas memórias e a saudade que sentia dos momentos ao lado de sua noiva.
O Corvo é uma obra que merece ser lida, conhecida e, principalmente, compreendida.
Texto do Prof. Raphael Albuquerque.